O ano era 1981, as idéias da ultra esquerda católica elitista mexia com esse tempo. Estava em São Paulo, ano chuvoso, de garoa incessante. Estudava na FAAP e lecionava Arte na rede estadual de ensino.Morava na rua Santo Antônio, em frente a Câmara Municipal, o Bixiga era o point. Eu, Eliane Tenório e Hercules Castgna, percorria noite a dentro ruas e bares espantando a solidão da juventude.Dividia um apartamento com Inês, uma professora pernambucana, que me acolheu com carinho e solidariedade, com aquele jeito nordestino - onde come um, come dez- e assim, igual a mim, ela também vinha em busca de sonhos e dias melhores.Confesso, o banzo acabava comigo - dizem que banzo nordestino é pior que banzo africano- por isso, qualquer pessoa advinda das terras das Alagoas, para mim era bálsamo para minha alma.
Certa noite, descendo a Consolação, para me encontrar com Érico Lira ( Supervisor da Vasp na época) me deparo com o jornalista e músico Luis Pompe e Gorete foi uma alegria só, mas, não dava tempo para prosas e recordações, eles tinham compromisso e eu também e já era noite alta.Acertei o prumo e desci a passos largos em direção ao Estadão, onde até hoje se come o melhor sanduiche de pernil. De longe, avistei a figura do Érico Lira na porta, elegante como um bailarino espanhol, bigodinho de Eron Flyn bem recortado,aparado com destreza, copo na mão, olhando o céu como a procura de estrelas. Ao me ver abriu os braços, sorriu, falou: - Puxa Su pensei que não vinha mais.Conversamos noite a dentro recordando todo tipo de traquinagem que juntos fizemos pela vida.Certo momento, ele parou, olhou para cima, olhou de lado e me confidenciou: - Tava te esperando aqui já fazia um tempo. Tanta gente e eu me sentindo vazio e só. Respondi: - É assim que me sinto. Ele concluiu: - Olha Su, AQUI É UM DOS LUGARES DO MUNDO, QUE É MELHOR ESTAR MAL ACOMPANHADO DO QUE SÓ. Caimos na gargalhada. A noite era uma criança.A ficha caiu meu irmão.
2 comentários:
Saudades do Erico. Vi-o pela última vez na macarronada alvorada em sua companhia,e naquela data estávamos a poucos dias de perdelo para sempre.Abraços. Marcilio barros
Meu irmão Marcílio Barros agradeço sua intervenção. Abraços fraternos.
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