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SUETONIO SARMENTO PÁGINA LIVRE

9 de janeiro de 2011

6.CONTANDO HISTÓRIA/JAREDE VIANA

TRANSCORRIA o ano de 1969. Estavámos no Trapiche da Barra, exatamente no Centro Social Cerize Costa, um anexo da igreja de São José, onde as ações sociais da igreja eram desenvolvidas em vários planos. Nesta ano, o clube de jovens organizava o I Festival de Poesia. Éramos todos idealistas, curtindo e vivendo todas as transformações e todas as revoluções dos anos 60. Era eu, o Érico Lira, Eilsson Tenório, Herli, Jorge Buçu, Rosangela, Sizelda, e tantos outros, envolvidos  no dia a dia da comunidade.
Quem tava organizando o cenário, era o Petrúcio,  pintor e professor que transmitia a sua  experiência artísticas para nós. Foi através de Petrúcio e do prof. José Maria Tenório que conheci JAREDE VIANA. Nossa amizade perdurou por mais de quatro décadas, sempre alicerçada, pelo respeito mútuo, pelo direito as divergências. Sempre crescendo nas contradições da vida.
No início de 1970, me escrevi no Festival de Música Universitária com a música " Dou a vez a quem está um pouco desligado" uma marcha rancho que falava da reforma agrária e  da ditadura militar. Quem iria defender a minha música era uma jovem universitária de medicina, Vera Barata, conhecida pela sua alegria e pela  voz maviosa e afinada. Vera,  era filha de uma enfermeira Dona Maria que trabalhava na farmácia dos pobres do seu Rui. Estávamos todos anciosos, não lembro qual rádio faria a transmissão,-acho que a Difusora) mas, na noite da apresentação,eu e meus amigos do Prado e do Trapiche ouvimos os apresentadores do Festival dizer: - "pedimos as nossas escusas ao compositor Suetonio de Albuquerque Sarmento"... - Eu já sabia antecipadamente que a minha música tinha sido censurada pelo Departamento de Policia Federal, mas, foi bom ouvir meu nome na rádio, principalmente contestando a tal ditadura.
Na segunda feira, ainda ressabiado, volto a rotina. A noite fazia cursinho em uma escola no início da Cambona. No intervalo das aulas sento nos degraus da escola e acendo um minister. Na primeira tragada vejo se aproximar a figura de Jarede Viana, desengançada, olhar de peixe morto, desconfiada. Abre os braços e o sorriso e me dar aquele abraço, me emocionei, era a amiga trazendo o conforto prá aquelas horas, a solidariedade ao amigo. Me recordo que não voltei mais a sala de aula. Saimos para algum barzinho e fomos colocar a conversa em dia. Acho que varamos a noite conversando, sobre a vida, os acontecimentos e principalmente sobre a conjuntura social do país naquele momento. Acredito, que naquela noite, Jarede Viana me cooptou definitivamente para os movimentos organizados que lutavam contra a ditadura militar. Anos depois a seu convite, fui trabalhar com ela na Escola Especializada, onde era diretora e eu assumi a Coordenação do Projeto João da Silva. Mantivemos uma amizade, onde a tônica sempre foi o respeito as idéias. Jarede Viana sempre envolvida com trabalhos educacionais, sociais, políticos. Sua defesa em prol dos direitos das mulheres, abriu espaços e caminhos para que novas lideranças se consolidassem politicamente, seja na área educacional ou sindical. Anos depois migrei  para São Paulo, mas, sempre mantiámos contacto.Quando o dever profissional a trazia a Sampa, as vezes, ficava aqui em casa e a conversa  ia até tarde da noite...Sempre a ouvia com muita atenção e respeito, pois sua experiência de vida, profissional e política, extrapolava o cotidiano, o trivial. Dias antes de falecer, ligou prá mim, estava se despedindo, conversamos, relembramos os velhos tempos, CONTAMOS HISTÓRIAS, cinco dias depois, com um profundo pesar, recebi a notícia de sua morte. Uma perda inestimável.

Um comentário:

MARTA LISBOA disse...

VELHO AMIGO. COM CERTEZA ELA TINHA APREÇO PELA SUA FIGURA DE MUITOS CARNAVAIS.ELA SEMPRE SENSÍVEL AOS TALENTOS E AOS BRILHOS NOS OLHOS DE ESPERANÇAS. ABBRAÇOS MARTA