Pesquisar este blog

Páginas

SUETONIO SARMENTO PÁGINA LIVRE

4 de março de 2010

POEMA

APETRECHOS DE GARIMPO
Otávio Cabral

A mulher coberta de só
exilou-se no templo desamparado
Queria rebobinar o tempo
subverter as lembranças
apaziguar-se com as raízes

(conversar com os mortos
é um exercício de solidão
requer uma certa agonia
e uns afazeres de recolhimento)

Uma lágrima anêmica escapou exausta
e espalhou-se alheia pelo rosto ancho

Era uma parte do rito

Também eu (às vezes)
exerço tal cerimônia

Por conveniência
(quando se pretende a dormência)
convém praticar uma outra parte do rito
que se concebe muito mais doída
pois reclama uma chaga no peito
e uns apetrechos de garimpo

É quando se descobre as nascentes
encolhidas na esquina da palavra
e as consumimos até à plenitude do esgotamento

Nesse momento
(como numa comunhão abissal)
ambos os desacompanhados
(o daqui e os de lá)
nos reconstruímos no verso oblíquo
e nos reconciliamos dialeticamente
pelos atalhos da estética nua.

Nenhum comentário: